As Musas Para tão grande triunfo como a vitória de Júpiter
sobre Saturno, a comemoração de uma noite não
basta, pensam os deuses. É preciso registrar a façanha
na própria memória do tempo. É preciso cantá-lo para
sempre a todos cantos do mundo.
O rei do céu e da terra escolhe, para ajudá-lo na missão
de gerar os seres que deverão simbolisar sua vitória, a
titânia Memória : nada seria esquecido quando
dito por alguém gerado no seio dela.
O soberano olímpico imediatamente toma o rumo da Piéra,
onde mora a escolhida. E surpreende-a solitária e dócil.
Durante nove noites, num poema de horas, Júpiter
une-se a Memória. Os meses de espera parecem não
terminar nunca. Mas um dia, finalmente, realiza-se o
desejo dos deuses : irmãs na beleza, irmãs na harmonia,
irmãs na missão, nascem as nove filhas de Júpiter
e Memória. Nascem as Nove Musas.
Elas eram : Calíope, Clio, Érato, Euterpe, Melpômene,
Polímnia, Talia, Terpsícore e Urânia (Consulte
a página dicionário para informação sobre cada uma)
O sábio julgamento das nove musas Desde que nasceu Apolo tem o dom da música,
em sua Lira. Mas nem mesmo um deus podia arrogar-se uma
função sem o consentimento das divindades que até então
presidissem. Assim como fora Sol, quem confiara a Apolo
o carro solar, também para assumir a condição de
protetor das artes ele precisava ser sagrado pelas Musas,
incumbidas de tal missão.
Compareceu, portanto, a uma assembléia no monte Parnaso,
onde moravam as nove Musas, para competir com um certo Mársias,
afamado flautista que chegara da Frígia e também
habitava aquelas cercanias. Infelizmente a flauta de Mársias
levava uma maldição : Um dia ela pertencera à Minerva,
que ao notar que a flauta deformava seu rosto, jogou-a
fora e amaldiçoara a quem a recolhesse.
Da flauta saíram sons extremamente vulgares, grosseiros,
evocativos de vícios, perversidade e luxúria. Da lira
fluíram acordes harmoniosos, serenamente com sua esplêndida
atuação, as Musas declaram Apolo vencedor,
e sagraram-no para sempre deus protetor das artes.
Mas da assembléia participava Midas, o rei dos frígidos,
que discordou do sábio julgamento. Por ter escolhido uma
arte depravada, o deus puniu-o, fazendo-lhe nascer
orelhas de burro. Quanto a Mársias, Apolo
esfolou-o vivo e depois suspendeu-lhe o corpo na entrada
de uma caverna, para que todos pudessem ver o castigo
reservado à perversão.
Mais tarde, arrependido, Apolo quebrou sua Lira,
transformou Mársias em um rio, e consagrou a
flauta à Baco.
Musas e Apolo Tão logo Apolo a viu, enamorou-se. Mas
a ninfa Castália não queria pertencer a ninguém.
Seu coração era das flores e seu corpo, das águas.
Apolo persegue-a até o monte Parnaso, onde,
com o rosto desesperado, a ninfa vacila de cansaço. Apolo
alcança-a. Enlaça-a com braços de ferro mas ela escapa
e, cheia de dor, lança-se nas águas de uma fonte.
Sentando-se à beira da fonte, busca com o olhar magoado,
a imagem da bela ninfa. Mas é tarde, as águas nada lhe
segredam. São apenas as testemunhas silenciosas do amor
irrealizado.
Querendo conservar para sempre a lembrança da ninfa. Apolo
dá à fonte o nome de Castália. Depois, na mais
profunda solidão toma seu caminho.
De repente, vindo de muito perto, chegam-lhe aos ouvidos
cantos suaves. Embevecido, procura a fonte de tão puro
som e depara com as Musas, que, dançando numa
clareira, alegram o bosque com suas vozes doces e seus
movimentos harmoniosos. A face luminosa do deus enfeita-se
em um sorriso.
Agradescido às Musas, em homenagem a elas concede
às águas da fonte Castália o poder da inspiração.
E pede às nove filhas de Júpiter que sempre o
acompanhem. A partir desse momento, quando desejar
conferir um dom especial a alguém. Apolo terá nas Musas
suas mensageiras mais fieis.
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