Astéria Beleza alguma podia ocultar-se dos olhos
astutos de Júpiter. Em sua procura eterna por
formosuras, ele acabou por encontrar a doce ninfa Astéria.
Como se fosse mortal comum, Júpiter expressou-lhe
seu deslumbramento e pediu-lhe que retribuísse a seus
ardentes desejos, mas Astéria fugiu pelo vale e
pelos bosques.
As folhas das árvores agitaram-se, os animais corriram
sobre o rastro de Astéria, como que para
despistar seu perseguidor. Camponeses e pastores pararam
seu trabalho para observar a fuga daquela que os
deslumbrava. Não queria aventuras a casta ninfa,
preferia o silêncio das oferendas anônimas. Porém as
ágeis pernas de Astéria não venciam os passos
fortes de um deus, o encontro era iminente.
À praia, usou seu recurso extremo : pelo poder que
recebera dos deuses, assumiu a forma de uma codorna. Mas
não tencinava voar. Ao contrário, olhou mais uma vez
para o deus que se avizinhava, e lançou-se ao mar. Sobre
as águas azuis foi perdendo olhos e penas e corpo de ave
- afogou-se.
O deus, entristecido, transformou-a em uma estéril ilha,
sem flores nem frutos, sem vida - e lhe deu o nome de
"Ortígia" - "Ilha das codornas".
Mais tarde esta ilha receberia Latona, que daria a
luz à Diana e Apolo. Este último,
trazendo consigo a luz e vida, traria vida à ilha que a
partir de então passaria a se chamar Delos -
"a brilhante" - e se cumularia de riquezas e de
glórias.
IO De
repente o céu escureceu, nada podia ser visto na Terra. Juno
desconfiou, só podia ser obra de Júpiter para
impedí-la de ver o que ocorria, então apressou-se em
dissipar as núvens e logo avistou Júpiter
deitado ao lado de uma bela novilha branca. Juno já
sabia : Júpiter tinha o costume de transformar
suas amantes em animais para despistar a esposa, Juno
não se deixaria enganar, e desceu ao encontro do marido.
Juno comentava sobre a beleza da novilha, Júpiter
fingiu não estar interessado e Juno pediu a
novilha de presente. Não podendo negar, pois isto
levantaria suspeitas, Júpiter consentiu. Além
disso, ele poderia mais tarde recuperar a novilha e a
transformar de volta em sua amante, a bela IO,
filha do Deus-rio Ínaco.
Mas Juno não queria a novilha, e logo levou-a
para onde fosse difícil encontrá-la e deixou-a sob a
guarda de Argo, o gigante de 100 olhos. Argo
vigiava a novilha, e quando estava com sono, apenas 50 de
seus olhos se fechavam, enquanto os demais 50 vigiavam
A beleza da novilha logo atraiu multidões de humanos,
mas IO não podia falar em sua forma de novilha, e
portanto não conseguia ajuda. Um dia até mesmo seu pai
veio visitar-lhe, mas nada pôde fazer IO. No
entanto, notando que seu pai aparecia frequêntemente
para vê-la, IO aprendeu a escrever seu nome com
uma das patas e o fez quando viu seu pai. Ninguém
entendeu, mas Ínaco sim. Nada podia fazer, e
chorou desconsolado o destino da filha.
Mas seu sofrimento não fora em vão, pois o Olímpico Júpiter
descobrira tudo e resolvera pôr fim ao sofrimento de pai
e filha. Chamou Mercúrio e lhe deu a missão de
libertar IO. Mercúrio, o deus mensageiro,
mal ouviu as ordens já partiu em sua missão.
O deus disfarçou-se de pastor e começou a tocar músicas
celestiais com sua flauta, o que logo chamou a atenção
de Argo que chamou o deus disfarçado para próximo
de si para melhor ouvir o belo som. No entanto, nem por
um instante, Argo deixou de vigiar a novilha. Mercúrio
então começou a contar histórias para tentar fazer os
cem olhos de Argo fecharem, mas nada conseguiu. Já
estava acabando seu repertório de histórias quando,
enquanto contava a história de Pã e Siringe, notou que Argo finalmente dormia.
Com uma faca, Mercúrio cortou a cabeça de Argo,
e carregou consigo IO, ainda metamorfoseada em
novilha. Juno ficou furiosa ao ver a cabeça de Argo
inerte no campo, em homenagem ao gigante que bravamente
à servira, jogou seus 100 olhos na cauda do pavão.
Furiosa esbravejou contra deuses e homens, e procurou IO
em toda parte do universo.
Apesar de Mercúrio ter deixado IO em um
lugar seguro, a determinação de Juno fora tão
superior à esperada que ela acabou por encontrá-la. A
pobre novilha correu e acabou por mergulhar no mar em
busca de refúgio, o mar azul mais tarde viria a se
chamar Iônico.
Exausta, IO foi ter no rio Nilo, disposta a morrer.
Mas novamente Júpiter interveio em favor da
amante, e procurou Juno para, com grande meiguice,
prometer-lhe que nunca mais cortejaria IO. Juno
aceitou, contanto que IO nunca mais pudesse voltar
à Grécia, assim se fez, e Júpiter então
retornou IO a sua forma normal.
Hermafrodito Bastou um olhar para Vênus e Mercurio
se desejarem naquele dia. Tão forte era a atração quão
pouco durou o encontro, apenas o necessário para
conceber um novo descendente do Olimpo, a quem os pais
chamaram Hermafrodito, união do nome dos pais : Hermes,
grego de Mercúrio, e Afrodite, de Vênus.
Vênus não tardara em sentir-se culpada de outro
adultério, e mandou Hermafrodito para os cuidados
das ninfas. O rapaz cresceu, belo como a mãe, mas tímido,
nunca enamorou-se.
Um dia ensolarado, Hermafrodito despiu-se para
nadar em um lado. A ninfa Salmácia que ali
passava viu-o e apaixonou-se de imediato, despiu-se e
movimentou-se ágilmente pelas águas. Mas Hermafrodito
evitou-a.
Desesperada, Salmácia agarrou o rapaz e rogou aos
deuses que dele nunca mas se separasse - os deuses
atenderam, e uniram os dois corpos num só, para que
jamais se separassem.
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