O que há de novo no liberalismo?

Eliane Yambanis Obersteiner

Especial para o Fovest

Um conceito tem sido progressivamente incorporado ao nosso vocabulário e

usado com frequência neste ano: neoliberalismo.Toda palavra precedida pelo

prefixo "neo", de origem grega, tem acrescida ao seu significado a idéia de

novo. Se há algo de novo no liberalismo, primeiro resgatemos as origens do

conceito.

Surgida na França no século 18 e refletindo os anseios da burguesia, a

doutrina liberal se opunha à ordem do Antigo Regime, sistema que se

caracterizava pelo absolutismo, pelo mercantilismo e pela sociedade

estamental, e que vigorou durante a Idade Moderna na Europa. Essa

sociedade, baseada em privilégios (monopólios econômicos, de origem de

nascimento, de poder absoluto do rei), relegava a burguesia, grupo social que

ascendia economicamente no período, a um lugar secundário na sociedade e

na política.

Isso se explica devido à origem social dos burgueses estar estreitamente

ligada ao campesinato medieval, que não possuía título de nobreza. A origem

de nascimento foi determinante até a Revolução Francesa, quando houve

uma ruptura no modelo de sociedade. A vitória dos ideais liberais entrou em

consonância com o desenvolvimento capitalista.

Os princípios de liberdade comercial, de não-intervencionismo estatal e de

auto-regulação do mercado passaram a vigorar associados à idéia de

modernidade até o início do século 20. No entanto, a crise de 29 e o período

do pós-guerra mudaram substancialmente esses princípios. As sucessivas

crises mundiais levaram à defesa de que somente planos diretivos e um

Estado que agisse de maneira reguladora evitariam novas crises. Em 1944, o

teórico Friedrick Hayek passou a pregar a libertação do sistema capitalista

das limitações do intervencionismo.

Porém o mundo passaria por uma fase próspera até a década de 70, e as

idéias do grupo que ele representava foram relegadas a segundo plano até lá.

É um novo contexto de crise, que trouxe as idéias desses neoliberais -como

passaram a ser denominados- como proposta de solução para os problemas

econômicos.

Parte dessa doutrina se baseava no saneamento do déficit público, na

privatização das empresas estatais, na redução ao máximo possível da

intervenção do Estado na economia e no fim da inflação. O crescimento

econômico se daria, então, pela diminuição dos encargos sociais, do Estado

e das empresas.

O capital privado, que passaria a ter um saldo positivo para reinvestir na

produção, se beneficiaria da política de arrocho salarial, que agiria como

forma de contenção da massa trabalhadora, que, numa situação de

desemprego, sentia-se ameaçada nos limites de sua sobrevivência. Esse

novo modelo de liberalismo que se estrutura no século 20 parte da mesma

concepção teórica que originou o termo na França do século 18, porém

adaptado à nova realidade da conjuntura contemporânea.

A realidade do mercado financeiro, da tecnologia e da globalização, aplicada

ao conceito de desenvolvimento econômico, contribui para tornar o

neoliberalismo predominante em boa parte dos países ocidentais.

Veja se aprendeu

1. (Faap/SP) A Revolução Francesa deu-se basicamente para:

a) extinguir definitivamente a influência do clero no plano político;

b) concretizar as aspirações dos camponeses, operários e artesãos;

c) depor Luís XVI;

d) permitir a ascensão da burguesia no plano econômico e político;

e) fomentar as desigualdades sociais existentes.

2. O conceito de neoliberalismo, em voga no século XX, caracteriza-se:

a) pelo intervencionismo estatal e controle alfandegário;

b) pela política de monopólios das reservas naturais;

c) pela diminuição do papel do Estado na economia, nas privatizações e no

controle inflacionário;

d) pela atuação do Estado na criação das obras de infra-estrutura e serviços

sociais;

e) pelo fim da autonomia do capital privado e tutela da classe trabalhadora.

Gabarito: 1-d, 2-c

Fonte: Eliane Yambanis Obersteiner

 

* Eliane Yambanis Obersteiner é professora de história do Colégio Equipe.