Primórdios da dívida brasileira
Eliane Yambanis Obersteiner
Especial para o Fovest
Crise econômica é um termo que está na ordem do dia. Crise globalizada,
ajuste fiscal, acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), reforma da
previdência também fazem parte do cotidiano de todo cidadão que busca
atualização frente aos rumos econômicos do país. Quais são as raízes
históricas que justificam a dependência econômica do Brasil frente ao
capitalismo hegemônico internacional? Oficialmente, fomos colônia de
Portugal até o início do século 19. Os rumos da colônia eram decididos de
acordo com os interesses lusitanos. Se o rompimento formal com Portugal
data de 7 de setembro de 1822 e a célebre cena protagonizada pelo príncipe
regente D. Pedro, às margens do Ipiranga, ilustra o fato, tanto a data quanto
o episódio têm caráter simbólico.
A autonomia política brasileira foi construída de forma processual e nem
sequer se encerra em 1822. O marco que inicia o fim do monopólio português
sobre o Brasil é gerado por uma circunstância externa. D. João 6º, príncipe
regente português, foge da invasão napoleônica em terras lusitanas. Para
tanto, recebe auxílio e proteção da esquadra britânica para chegar ao Brasil.
Como retribuição, D. João 6º promove a abertura dos portos brasileiros às
nações amigas, em 1808. Esse ato gera o rompimento do monopólio
comercial português sobre o Brasil, que era a base de sustentação do pacto
colonial.
Navios ingleses aportam no Brasil, trazendo todo tipo de mercadoria para
serem aqui comercializados. Caixões de defunto, patins de gelo, ternos de lã
e uma enorme quantidade de produtos conferem status a seus compradores.
A Inglaterra passa a ser moda no Brasil e a dominar o mercado interno.
Em 1810, D. João reafirma os laços com a Inglaterra com a assinatura dos
tratados de comércio e navegação. Durante o século 19, o capital inglês
atuará com vantagens alfandegárias no Brasil, pagando as menores taxas
para introduzir seus produtos em nosso mercado.
O período joanino, que vai de 1808 a 1821, inicia o fim dos laços coloniais e o
início do domínio do capital estrangeiro por aqui. Em 1825, o reconhecimento
da independência do Brasil por parte de Portugal dá-se mediante o
pagamento de uma vultosa indenização, cujo capital o Brasil obtém na forma
de empréstimo, dando origem à primeira dívida externa brasileira.
O fim da dependência colonial frente a Portugal inaugura a história de um
país independente politicamente, mas atrelado aos interesses dos capitais
internacionais dominantes. Ou seja, os problemas da economia brasileira
começaram há muito tempo.
Veja se aprendeu
1. (Mackenzie/SP) Podem ser consideradas características do governo
joanino no Brasil:
a) a assinatura de tratados que beneficiavam a Inglaterra e o crescimento do
comércio externo brasileiro devido à extinção do monopólio;
b) o desenvolvimento da indústria brasileira graças às altas taxas sobre os
produtos importados; c) a redução dos impostos e o controle do déficit em
função da austera política econômica praticada pelo governo;
d) o não envolvimento em questões externas, sobretudo de caráter
expansionista;
e) a total independência econômica de Portugal em relação à Inglaterra, em
virtude de seu acelerado desenvolvimento industrial.
2. (Universidade Gama Filho/RJ) "O mercado ficou inteiramente abarrotado,
tão grande e inesperado foi o fluxo de manufaturas inglesas no Rio, logo em
seguida à chegada do Príncipe Regente, que os aluguéis das casas para
armazená-las elevaram-se vertiginosamente." (John Mawe)
Com base no texto, assinale a opção que melhor caracterize a evolução da
economia brasileira com a vinda da Família Real:
a) a atuação de uma burguesia lusa dinâmica investindo no setor industrial;
b) a abertura de portos e os tratados de comércio subsequentes
impulsionaram o desenvolvimento econômico;
c) D. João adotou uma política econômica visando especificamente ao
desenvolvimento industrial;
d) O comércio colonial estava vinculado à América Espanhola;
e) D. João adotou uma política liberal e protecionista visando a proteger o
comércio colonial dos franceses.
Gabarito: 1-a, 2-b
Fonte: Eliane Yambanis Obersteiner
* Eliane Yambanis Obersteiner é professora de história do Colégio Equipe.