DICAS DE LITERATURA

 

Estas dicas foram elaboradas pela profa. Ivian Lena Destra, do

Cursinho da Poli. Podem também ser ouvidas através da Rádio

USP, nas cinco edições diárias do programa "Clip Vestibular".

1. Vamos dar uma relembrada em Carlos Drummond de Andrade?

Nasceu em 1901, Itabira do Mato Dentro, interior de Minas Gerais, e morreu

em 1987 no Rio de Janeiro. A infância de Drummond marca a sua poética -

uma infância passada no interior de Minas, numa cidade pequena, em uma

família extremamente conservadora.

O livro que está na lista da Fuvest é Alguma Poesia, publicado em 1930, o

primeiro de Drummond. O livro se insere no segundo tempo modernista,

tempo de moderação e de consagração dos poetas modernistas. Apresenta

duas temáticas importantes: o "gauche", a idéia do esquerdo, daquele que

não é direito à realidade, que está desencontrado, que está desconcertado -

o eu e o mundo estão desconcertados; e a blague, a risada, a gargalhada -

uma temática dos modernistas, de rir diante da realidade do mundo, de rir de

si próprio diante do mundo.

O poema que abre Alguma Poesia é o Poema de Sete Faces. São sete

tons em sete estrofes. A primeira, muito famosa:

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

Essa idéia de Carlos ser gauche na vida, seria a idéia de ser poeta? A idéia

de ser lírico no mundo onde não há mais lirismo? E ele termina:

Eu não devia te dizer

mas essa lua, mas esse conhaque

botam a gente comovido como o Diabo.

Esse jeito mineiro de terminar o poema, de dar uma cambalhota, como ele

mesmo diz, é a idéia de brincar com o poema, de brincar com si mesmo,

com os seus próprios sonhos, brincar com o leitor! É a blague - uma grande

temática da poesia modernista.

2. Vamos dar uma revisada em Camões?

Século XVI, apogeu da literatura, da cultura, do político e do social em

Portugal. Época do Renascimento, que veio da Itália, do século XIV, e que

chegou a Portugal no século XVI; publicação d'Os Lusíadas, a épica de

Camões, e também da Lírica, que foi publicada postumamente, portanto não

foi revisada pelo autor. A Lírica, os sonetos, é o que cai de Camões no

vestibular.

Três temáticas importantes:

- o desconcerto do mundo, esse mundo que está errado;

- o EU de Camões que não se adapta ao mundo, à mudança, ao mudar

constante das estações, das pessoas, das situações diante do mundo, e

esse EU que procura se adequar a essa grande mudança;

- o maior dos temas e o mais trabalhado por Camões é o amor, procurando

sempre, nos sonetos, atingir uma reflexão sublime sobre a idéia que ele está

abordando.

Importantíssima no amor de Camões é a reflexão que ele faz diante desse

amor platônico, que é a moda da época do renascimento. O amor platônico é

ver a idéia do mundo representada no amor espiritual. O amor está somente

na idéia. Mas ele transgride essa regra, ele vai além do amor platônico. Ele

também vê que o amor é aristotélico, o amor não é só idéia, o amor é forma,

o amor é concretização. Por isso ele atinge o maneirismo e vai conseguir,

através da reflexão, ser paradoxal e ser muito grandioso. Aí está o poema

mais famoso dele:

Amor é um fogo que arde sem se ver

é ferida que dói e não se sente

é um contentamento descontente

é dor que desatina sem doer.

Essa tentativa de classificação do amor mostra o EU paradoxal, e a visão do

mundo através dessa forma e do desejo.

3. Vamos dar uma passada em Cruz e Souza, poeta simbolista?

João da Cruz e Souza nasceu em Santa Catarina, em 1861 e morreu em

Minas Gerais em 1898; portanto, centenário da morte de Cruz e Souza este

ano. Pai escravo, mãe alforriada! Teve uma vida marcada pelo preconceito

racial. Trabalhou em jornal de orientação republicana e abolicionista. Ele abre

o simbolismo brasileiro em 1893, com a publicação de Broquéis e Missal.

O simbolismo foi um movimento essencialmente poético, que não teve grande

divulgação aqui no Brasil, e que trouxe para nós o subjetivismo romântico do

poeta decadente, se contrapondo ao positivismo, ao cientificismo do

realismo/naturalismo em voga até então. O simbolismo veio se contrapor à

ciência poética do parnasianismo, à ciência de fazer poesia - à arte pela arte.

Veio com as idéias de invocar etéreas musas, da brancura mística, da

sinestesia do poeta francês Charles Baudelaire.

Cruz e Souza tem uma característica: a fixação pelo branco. Os três

elementos mais importantes de sua poesia são o individualismo, o

transcendentalismo e a musicalidade. O poema mais importante de Cruz e

Souza é Antífona, que traz a idéia do branco, as formas alvas, brancas!

Nele, essa fixação pelo branco de Cruz e Souza fica bem evidente.

4. Vamos dar uma dica de romantismo para vocês.

O romantismo tem três gerações; desenvolveu-se na época das revoluções

do século XVIII, dos ideais revolucionários, das grandes mudanças sociais,

do liberalismo - que vai trazer para a literatura o grande sentimentalismo e a

idéia de nacionalismo, manifestando-se sob a forma de poesia, romance,

teatro e jornalismo. Três gerações, três poetas que nós vamos rever aqui.

Primeira geração: a exaltação do passado, do nacionalismo, na geração

nativista ou indianista. É também a volta do amor trovadoresco, do amor

espiritual e da exaltação do índio. O grande poeta da primeira geração é

Gonçalves Dias.

Segunda geração: byroniana (do poeta inglês George Byron, 1788 - 1824); o

mal do século é o tédio que leva à aspiração da morte, o desejo da morte

como salvação. São idéias presentes na obra de Álvares de Azevedo.

E a terceira geração: condoreirista, de crítica social baseada em Victor Hugo

(escritor francês, 1802 - 1885) . O grande poeta é Castro Alves, que traz a

idéia do abolicionismo, é o poeta dos escravos. O poema de Castro Alves

exigido pela Fuvest é o Espumas Flutuantes, um livro que tem influências da

segunda e da terceira geração. O poeta é influenciado por Álvares de

Azevedo e por Fagundes Varela, e também por alguns poemas críticos da

sociedade da época. Não são poemas do escravismo! Os poemas do

escravismo estavam em outro livro, que Castro Alves não conseguiu publicar

em vida!

A diferença entre Castro Alves e Álvares de Azevedo? Álvares de Azevedo

busca a morte como salvação:

Se eu morresse amanhã

Oh, que alívio seria.

Para Castro Alves, morrer é a idéia do inevitável porque ele está doente, está

morrendo, e infelizmente ele ainda quer viver.

5. Vamos dar uma dica sobre os livros da Fuvest.

São dez os livros exigidos. Livros interessantíssimos como Sonetos de

Camões; Espumas Flutuantes, Castro Alves; O Primo Basílio, de Eça de

Queirós; Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; Alguma

Poesia, do Drummond; Fogo Morto, de José Lins do Rego; Contos Novos, do

Mário de Andrade; Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto;

Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa; e Os Melhores Contos, de

Rubem Braga.

Os livros não são para serem lidos apenas como historinhas que você deve

saber. Não cai só enredo no vestibular, mas também a interpretação crítica

dos trechos e do texto. As perguntas também incidem sobre como o poeta

escreveu e você tem que explicar o uso de certos termos gramaticais. Então

a leitura não é só historinha, não! É a crítica, é não ser ingênuo perante a

idéia do texto.

Vamos lembrar aqui só João Cabral de Melo Neto, que pertence à geração de

45, o terceiro tempo modernista. É uma geração que vai aliviar o poema do

sentimentalismo, classificada como "a geração com senso de medida".

Morte e Vida Severina conta a história de um percurso feito por Severino, que

sai da morte para alcançar a vida, mas essa vida é presidida pela morte.

Aparece aí a coisificação injusta do homem, que João Cabral de Melo Neto

está relatando para nós, leitores.

Leiam o livro - é fácil de ler, muito interessante, e vai acrescentar muito à vida

de vocês.

Uma boa sorte e boa prova!