DICAS DE GEOPOLÍTICA

Estas dicas foram elaboradas pelo prof. Roberto Goulart, do

Cursinho da Poli. Podem também ser ouvidas através da Rádio

USP, nas cinco edições diárias do programa "Clip Vestibular".

1. Começamos as dicas de Geopolítica para a primeira fase da FUVEST com

uma visão de conjunto, pelo caráter da prova - que é uma visão mais geral.

Eu creio que é importante chamarmos a atenção para os aspectos da

chamada nova ordem mundial. Esta foi anunciada em 1989, logo após a

queda do muro de Berlim e foi marcada por uma grande euforia naquele

momento - e por um grande otimismo. A queda do muro está próxima de

completar dez anos, e o balanço que se faz é o de que na verdade, ao invés

de termos uma ordem mundial marcada pela paz, o que nós temos hoje é

uma nova desordem mundial - haja vista os diversos problemas, sejam

étnicos ou nacionalistas, que surgiram tanto na Europa e na América quanto

na África. Essa nova ordem mundial é fortemente marcada pela entrada em

cena do neoliberalismo, que veio afetar as economias européias e dos países

desenvolvidos, atacando principalmente o Estado do bem estar social. E aí

nós tivemos essa "economia-cassino" da desregulamentação financeira que

levou a diversas crises, entre as quais a crise asiática, a da Rússia e a da

América Latina. Portanto hoje, essa globalização econômico-financeira, como

marca distintiva da nova ordem mundial, marcada pela especulação, se vê na

verdade marcada por uma nova desordem mundial. Eu creio que o vestibular

deve abordar, por uma prova mais de conjunto, por uma visão de caráter mais

abrangente, os principais aspectos da nova ordem. Em resumo esses

aspectos seriam: o fim da guerra fria, o neoliberalismo que o marca, a

formação de blocos econômicos e, ao mesmo tempo, ao invés de paz, nós

temos um aumento dos conflitos e das contradições no cenário internacional.

2. A segunda dica é sobre comércio internacional. Desde 1995 a

Organização Mundial do Comércio substitui o Acordo Geral de Tarifas, o

GATT, que foi estabelecido em 1948. A OMC trata hoje tanto do comércio

como da circulação de bens e serviços. O comércio internacional, regulado

pela OMC, é marcado por um novo avanço dos países da tríade Estados

Unidos-Europa-Japão. Temos aí uma reemergência da posição dos Estados

Unidos para tentar liderar e buscar mercados em todo o planeta. Mais

especificamente na América Latina, nós temos a participação e a tentativa

dos Estados Unidos de estender o seu acordo, o NAFTA (acordo comercial

entre México, Estados Unidos e Canadá), para toda a América através da

ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). A OMC foi marcada pela

retomada da pax (paz) americana e pela tentativa de se impor um tipo de

doutrina Clinton, em que os mercados para seus produtos e as empresas

norte-americanas seriam extremamente vitais para o crescimento e a

retomada norte-americana no cenário internacional.

Ainda sobre o comércio internacional, vale destacar a lei que os Estados

Unidos criaram em 1996 a lei Elmes-Burton, que aumenta o embargo

econômico a Cuba, iniciado em 1962. Seus autores queriam privilegiar

apenas os produtos norte-americanos e fechar a ilha, ou então operar uma

transição em Cuba, na qual os norte-americanos pudessem tirar toda a

vantagem.

Em resumo, o comércio internacional, regulado pela OMC, tendo na sua

liderança os Estados Unidos, é um jogo que favorece os países ricos, os

países mais fortes, em detrimento dos países mais pobres.

3. Vamos abordar a questão nuclear no planeta, que voltou a ser assunto nos

principais jornais após a detonação das bombas atômicas por parte da Índia

e do Paquistão. Vale lembrar que a questão nuclear iniciou-se em 1945,

quando o Estados Unidos detonaram sobre o Japão duas bombas atômicas.

O bombardeio de Hiroshima e Nagasaki deu início à chamada corrida

armamentista, através do desenvolvimento de armas de destruição maciça,

os armamentos nucleares. Nós sabemos que durante toda a era da guerra

fria, que se estende de 1945 até 1989, o mundo viveu sob o terror dos

armamentos atômicos. Um dos traços da chamada nova ordem mundial,

iniciada com a queda do muro de Berlim, seria o afastamento do perigo

nuclear. De fato, a pax atômica encerrou-se, porém a retomada de testes

nucleares por parte da China, assim como da própria França - já em 1995 - e

mais recentemente por parte da Índia e do Paquistão, trazem de novo o medo

do perigo nuclear para todo o mundo.

Quanto ao Brasil, é importante destacarmos que neste ano de 1998 o

Congresso ratificou o TNP, o Tratado de Não-Proliferação das Armas

Nucleares, em vigor desde 1970. Ao assinar, o país mais uma vez confirmou

o afastamento desse perigo para a América Latina.

Vale ressaltarmos que embora os países estejam numa época supostamente

livre da guerra fria, os armamentos atômicos ainda são uma forma de

pressão. A Índia busca, através da explosão de bombas, não só se fortalecer

contra seu arquirival, o Paquistão, mas ao mesmo tempo tentar conseguir um

lugar numa nova ordem internacional. Esperamos que essa questão nuclear

não seja a maneira definitiva para a Índia conseguir o seu lugar entre o

concerto da nações.

4. Esta dica é sobre o papel da ONU e os problemas mundiais. Nós sabemos

que terminada a Guerra Fria, foi depositada sobre a ONU uma grande

esperança de que ela viesse a mediar os conflitos mundiais e que, portanto,

cumpriria o seu papel, que é o de estabelecer a paz mundial. Na década de

90, mais precisamente desde 1992, a ONU passou a realizar as chamadas

megaconferências para tratar de problemas que não dizem respeito apenas a

um ou outro país, mas são problemas globais - os chamados temas globais.

Para isso ela realizou seis megaconferências: em 1992 para tratar de

meio-ambiente; 1993 para tratar de direitos humanos; 1994 para tratar de

populações; 1995 sobre a pobreza; 1996 sobre o habitat e assentamentos

humanos.

Dentre esses vários problemas que estão colocados para a ONU, eu

chamaria o destaque para este ano, quando se completam 50 anos da carta

dos direitos humanos. O desrespeito aos direitos humanos é um problema

dos mais graves. Em específico, eu chamaria a atenção para uma questão

que a FUVEST ainda não abordou, que é o tema dos refugiados. Um tema

extremamente contemporâneo, já que cerca de 50 milhões de pessoas estão

vivendo fora de seus países. Dentro deles, ficavam numa situação

extremamente delicada, inclusive com risco de vida. Os países do norte vêm

negando, cada vez mais, a entrada de refugiados em seus territórios. E a

ONU vê o seu papel diminuído pela falta de verba dos países que contribuem

com ela, ainda que existam grandes problemas a serem tratados. Em

resumo: a questão dos refugiados, hoje, é um problema central na ordem

internacional.

5. A quinta dica diz respeito aos Estados Unidos. Nós sabemos que em 1898

os Estados Unidos se lançaram como potência mundial; passaram por este

século consolidados - principalmente a partir da Segunda Guerra - como

potência mundial e como superpotência hegemônica no planeta hoje,

podemos dizer assim.

Os Estados Unidos revêem o resto do tabuleiro mundial e se perguntam:

quais são os desafios? A Rússia está extremamente debilitada - não só

pelas crises financeiras, mas também pela atuação das máfias internas. A

Europa instável, com a proximidade da Rússia; a Ásia se vê às voltas com a

suposta ascensão da China e agora com os armamentos atômicos da Índia e

do Paquistão; a África extremamente desestabilizada, pelos vários conflitos

étnicos. Vale chamarmos a atenção ainda para o fato de que os EUA

criaram, como já chamamos a atenção, uma relação com o mundo, neste

final de século, que parece ser o de reestabelecer uma Pax americana, ou

seja, sua hegemonia no planeta como um todo e daí tirar os proveitos não só

na área comercial, mas na área diplomática e na área militar. Em suma, o

papel dos EUA hoje no mundo, diferentemente de 1990, não é de declínio,

mas parece apontar para uma retomada da hegemonia americana em todas

as áreas do planeta, mais especificamente na Ásia, no Oriente Médio e

recentemente na América Latina. É isso aí.