DICAS DE BIOLOGIA
Estas dicas foram elaboradas pelos profs. Édson Futema (1 e
2), Alexandre Tozetti (3 a 6) e André Villaça (7 a 11), do cursinho
da Poli. Podem também ser ouvidas através da Rádio USP, nas
cinco edições diárias do programa "Clip Vestibular".
1. Vamos lembrá-los de alguns itens dos mecanismos energéticos dos seres
vivos. Os vegetais são os principais produtores, na natureza, de matéria
orgânica energética, como os carboidratos. Isso é possível graças ao
eficiente aparelho, dentro das células das plantas, chamado de cloroplasto,
que realiza uma série de complexas e intrincadas reações bioquímicas,
chamadas de Fotossíntese. Na Fotossíntese, a energia da luz é convertida
em energia química, para transformar gás carbônico e água em carboidratos,
participando as moléculas de clorofila e enzimas.
Alguns tipos de bactérias também podem produzir carboidratos através de
um processo mais ou menos semelhante à Fotossíntese, chamado de
Fotossíntese Bacteriana. Outras bactérias encontradas nos fundos marinhos
abissais sintetizam carboidratos sem a presença da luz. Como elas fazem
isso? Oxidam, por exemplo, gás sulfídrico, num processo chamado de
Quimiossíntese.
Os organismos que não produzem carboidratos necessitam constantemente
adquirir essas substâncias do ambiente, através da nutrição. Alguns
alimentam-se diretamente dos vegetais, ou partes deles - como raízes,
caules e as folhas. Outros comem aqueles que se alimentaram dos vegetais,
e assim sucessivamente, montando uma seqüência alimentar, a Teia
Alimentar. Dentro das células os carboidratos - como as moléculas de
glicose - são quebrados e moídos em substâncias cada vez menores para se
obter energia. Quando o oxigênio inspirado e inalado do ambiente reage com
os resíduos hidrogênicos forma-se água, água metabólica. Esse processo é
conhecido como respiração aeróbia.
2. Assunto: fisiologia da membrana das células. Comentaremos alguns
mecanismos de transporte. As células são entidades vivas e necessitam
realizar troca de materiais com o ambiente. A película que envolve, delimita e
protege as células, é a membrana plasmática ou celular e é essa membrana
que permite a passagem das substâncias. Uma importante propriedade das
membranas é a permeabilidade seletiva - a membrana possui permeabilidade
a algumas substâncias, como os gases e a água. A membrana plasmática é
seletiva porque seleciona e regula, até um certo limite, as substâncias que
podem atravessá-la, como íons e partículas alimentares.
As células vivem num ambiente aquoso e em solução, portanto é importante
manter um equilíbrio do conteúdo interno celular com o ambiente. Por
exemplo: o acúmulo de sais minerais dentro das células animais pode
provocar a entrada de água, acabando por estourar e até mesmo matar a
célula. Quando o ambiente está muito mais concentrado em sais, a água
percorre o caminho inverso da situação anterior, ou seja, a água sai da célula
até torná-la murcha. Estão lembrados daquela brincadeira de infância, em
que vocês colocavam sal na lesma do jardim e ela "derretia"? É exatamente
isso que acontece quando o meio está em desequilíbrio com o interior
celular.
Esses exemplos mostram um tipo de transporte através da membrana - sem
gasto energético - conhecido como osmose, que é um caso particular de
difusão.
3. Provavelmente, na situação do vestibular, por mais que você seja uma
pessoa calma, vai ficar um pouco nervoso. Aí, o que acontece? O coração
dispara, você fica pálido... O que está acontecendo? O sistema nervoso
autônomo - mais exatamente uma divisão do seu sistema nervoso autônomo
- está dando uma descarga elétrica. Essa divisão é o sistema nervoso
simpático.
Nessa descarga, adrenalina acaba sendo liberada na circulação; essa
adrenalina se espalha e vai causar diversas alterações. Você ficou pálido por
que? Constrição - você vai contrair os vasos sangüíneos para redirecionar o
fluxo sangüíneo. Você não precisa de sangue na sua pele nesse momento,
por isso você fica pálido. O sangue está indo principalmente para os seus
músculos, para você lutar, correr e - às vezes - até fugir. O seu coração
dispara pelo mesmo motivo, ou seja, otimizar o efeito da circulação. Então,
resumindo: situação de perigo, integração entre os sistemas nervoso e
hormonal.
4. Gente, esta é uma época muito especial. A gente olha pra cidade e vê os
ipês, a árvore símbolo do Brasil, com suas folhagens ausentes e lindas flores
amarelas - claro, podem ser de outras cores, dependendo da espécie.
Por que sem folhas? Como você sabe, esta é uma situação em que o ar está
muito seco e isso favorece a transpiração. Se você colocar todas as folhinhas
de uma árvore, uma do lado da outra, você vai ver que existe uma área muito
grande. É uma área muito extensa para a transpiração, o vegetal não suporta
perder tanta água por uma área tão grande assim. O que o ipê - e outras
árvores - faz? Perde suas folhas; perdendo as folhas ele vai reduzir a
transpiração, vai poder viver numa época seca. Ele pode também fechar os
seus estômatos, que são estruturas que funcionam como poros reguláveis
para controlar a transpiração e a troca gasosa.
Imagine uma planta que viva sempre em uma situação de extrema aridez. Ela
não pode perder suas folhas o tempo todo; na verdade ela faz outra coisa. O
cacto, por exemplo, transformou suas folhas, ao longo da evolução, em
espinhos. Assim a área fica muito reduzida e a transpiração pode ser
controlada com muita eficiência. Em vista disso, o cacto precisa ter seu
tronco ou seu caule verde; ele é fotossintetizante e substitui a ação das
folhas na fotossíntese.
5. Vocês já devem ter se acostumado a ouvir a frase "o rio Tietê é um rio
morto"... Será que isso realmente é verdade? Definitivamente, não. Ele é um
rio nadinha morto: se você pegar uma gotinha de água do rio Tietê, vai ver que
existem inúmeras espécies de microorganismos.
Qual é o real problema desse rio? Ele recebeu por muito tempo muita matéria
orgânica proveniente de esgotos. Essa matéria orgânica foi então
decomposta por bactérias, microorganismos que acabaram por consumir
quase que todo oxigênio desse rio. Portanto, o Tietê é um rio sem oxigênio,
sem vida aeróbia. O que acontece então? O resto de matéria orgânica - e
aquela que ainda está sendo despejada no rio - passa a ser então utilizada
por seres anaeróbios, que não usam oxigênio.
Então, não há mais espaço para seres como os peixes, alguns vegetais e
outros microorganismos que precisam do oxigênio. Na atual situação, os
seres que não usam oxigênio, ou anaeróbios, estão degradando o alimento,
fazendo uma fermentação que tem como efeito a liberação de gases mal
cheirosos. É por isso que é difícil ignorar a existência do Tietê...
6. Você provavelmente já teve a sensação de ter comido algo que não lhe
caiu bem. No vestibular, porém, você pode ter problemas com essa frase -
"caiu bem ou caiu mal". O alimento realmente não cai no seu estômago; ele
é empurrado para o seu estômago - se caísse, o astronauta nunca
conseguiria se alimentar, ou teria sérias dificuldades para fazer isso.
Na verdade, o alimento chega até o seu estômago através de movimentos
peristálticos, movimentos involuntários - ou seja, que você não consegue
controlar.
Bom, numa situação de dores no seu estômago, você pode usar um
anti-ácido - que vai atenuar a acidez de seu estômago, reduzindo os efeitos
dela, como a dor, por exemplo. Mas qual é o problema de reduzir a acidez?
Não vai mais haver (ou vai ser reduzida) a digestão no seu estômago, que
precisa ocorrer num meio ácido: as enzimas, que estão trabalhando na
digestão do alimento, não vão conseguir trabalhar no seu estômago. A
digestão possui níveis de PH de acidez ou alcalinidade específicos para cada
área do seu tubo digestivo. Então, na boca, o PH ideal é um PH neutro, em
torno de 7; na região do seu estômago, o PH ideal é um PH ácido, como já
dissemos e, no final do seu tubo digestivo, ou mais para a frente, no
duodeno, no intestino delgado, o PH ideal é um PH alcalino. Qualquer
alteração nisso atrapalha a sua digestão.
7. No vestibular, um assunto freqüente são as doenças e seus ciclos.
Quando nos lembramos de alguma doença, sempre temos de pensar no
causador dessa doença, que ganha o nome de agente etiológico. O agente
etiológico geralmente vem com o nome científico. Lembram-se da lombriga,
cujo nome científico é Ascaris lumbricoides? Então, você tem que se lembrar
de que o agente etiológico geralmente vem com o nome científico e é o
causador da doença.
Em algumas doenças, o agente etiológico é transmitido por um outro bicho, e
esse outro bicho é o vetor. Vamos lembrar então, na parasitologia, da doença
de Chagas. Seu vetor é o Triatoma infestans, o barbeiro; um inseto que
transmite o agente etiológico, o Trypanossoma cruzi. Essa doença tem um
certo ciclo: uma permanência no inseto, uma permanência no homem, que
vai ser o agente lesado pela doença. Então vocês têm de se lembrar de três
coisas: do agente etiológico, causador da doença, do vetor, que transmite
essa doença, e do ciclo em que ela ocorre.
8. A dica é sobre os tipos de sistema circulatório. Em Fisiologia vemos vários
sistemas: respiratório, circulatório, excretor. Quanto ao sistema circulatório,
vocês têm de lembrar que, na evolução dos animais, existem dois tipos de
sistemas circulatórios: um sistema circulatório fechado e um sistema
circulatório aberto.
O sistema circulatório aberto é um sistema em que o sangue circula
inicialmente dentro de vasos sanguíneos - então geralmente tem uma bomba.
Ela pode ser um vaso sanguíneo modificado, que bombeia o sangue dentro
de vasos sanguíneos. Só que esse sangue acaba caindo em espaços vazios
- em lacunas - dentro dos invertebrados, geralmente. Então, no sistema
circulatório aberto, o sangue nem sempre circula dentro de vasos: ora dentro
de vasos, ora em espaços vazios denominados lacunas - espaço interesticial
entre as células.
No sistema circulatório fechado, o sangue sempre vai circular dentro de vasos
sanguíneos; tem uma bomba, o coração, que bombeia o sangue para todo o
resto do organismo, sempre dentro de vasos sanguíneos. Apenas no nível
dos capilares vão ocorrer as trocas entre as substâncias químicas destinadas
às células e as excretas para o sangue.
Quem tem sistema circulatório fechado são os vertebrados - peixes, anfíbios,
répteis, aves e mamíferos - e os cefalópodes, os moluscos: o polvo e a lula.
9. Os seres vivos são colocados, hoje em dia, em cinco reinos:
o reino monera, que é o reino das bactérias e das cianobactérias;
o reino protista, que tem algumas algas unicelulares e os protozoários;
o reino fungi, dos fungos;
o reino plantae, ou metaphita, dos vegetais;
e o reino animalia, ou metazoa, dos animais.
É bacana também você se lembrar das características dos organismos
desses reinos; por exemplo, no reino monera a gente pode encontrar os
organismos procariontes, que são organismos com uma célula mais simples,
menos derivada do que a célula eucarionte. Pode encontrar também
organismos tanto autótrofos como heterótrofos; por exemplo, as
cianobactérias produzem o próprio alimento, através da fotossíntese ou da
quimiossíntese - são autótrofas. As heterótrofas são as que consomem
algum alimento de fora do corpo dela. Essa é a diferença entre autótrofo e
heterótrofo, entre os produtores e dos consumidores.
Vocês têm de lembrar também se os organismos são unicelulares ou
pluricelulares. Os unicelulares podem formar colônias e os pluricelulares
geralmente formam tecidos verdadeiros, como no caso dos animais, dos
fungos e dos vegetais.
10. Botânica não é um assunto com o qual o pessoal gosta muito de lidar,
mas não tem segredo. Basta você entender mais ou menos como as plantas
se classificam.
Há muito tempo, alguns cientistas começaram a pesquisar as plantas e viram
que elas se classificavam de algumas formas. Uma forma de classificação
das plantas foi a presença ou a ausência de flores - ou seja, existem plantas
com flor e existem plantas sem flor. As plantas sem flor são chamadas de
criptógamas; são plantas que não apresentam flor nem semente, porque a
semente é oriunda da flor. As plantas sem flor pertencem ao grupo das algas,
geralmente as algas marinhas, pluricelulares; das briófitas, que são os
musgos - aqueles "musguinhos" que nascem debaixo do tanque da mãe, que
nascem em beira de barranco de cachoeira; e das pteridófitas, que são as
samambaias e as avencas - plantas que podem ser de pequeno porte ou até
de grande porte, como algumas samambaias-açus.
As plantas com flor se dividem em dois grupos: o dos pinheiros e das
sequóias, no caso das gimnospermas, e o das demais plantas - a maioria -
que são as angiospermas, plantas com flor e com semente. Essa flor pode
ser a mais variada possível, mas está sempre presente. A grama, por
exemplo, tem flor - uma flor pequena; mas ela está lá, porque a grama é uma
angiosperma.
11. A Fuvest, a Unicamp e a Unesp geralmente cobram o raciocínio nas
questões. Eles não cobram nenhuma decoreba... O aluno tem que saber não
um só tópico, mas dois - e relacioná-los. Um exemplo disso é a prova de
Biologia da Fuvest no ano passado, na questão 75: que tipos de organismos
devem estar necessariamente presentes em um ecossistema para que ele se
mantenha? O aluno não tinha de decorar os tipos de organismo, ele tinha de
entender as formas como eles agem e, a partir desse entendimento, explicar
quais os organismos que necessariamente estão presentes. Foram dadas 5
opções:
a) herbívoros e carnívoros;
b) herbívoros, carnívoros e decompositores;
c) produtores e decompositores;
d) produtores e herbívoros;
e) produtores, herbívoros e carnívoros.
A alternativa certa é a C, são os produtores e decompositores. Como assim?
O candidato tinha de se lembrar do seguinte: no ciclo de vida do planeta, no
ciclo ecológico, os tipos de organismo necessariamente presentes são
aqueles que produzem alimentos, são aqueles que tiram do sol a energia
para a produção de moléculas orgânicas. Os produtores, ou autótrofos, são
classificados em fotossintetizantes e quimiossintetizantes.
Também têm de estar obrigatoriamente presentes os decompositores. São
aqueles que vão reciclar toda a matéria orgânica do meio-ambiente, fazendo
com que essa matéria possa ser reaproveitada pelos produtores. Então vocês
tinham de raciocinar, vocês tinham de se lembrar de todo o ciclo, mas saber
exatamente quais eram necessários. É uma questão que envolve dois tipos
de raciocínio: um raciocínio conceitual, o outro mais intelectual, implicando
numa reflexão sobre o assunto.